sexta-feira, 8 de março de 2013

Características do usuário de drogas


Texto publicado dia 08/03/13 no Jornal Opinião            

       
        O uso de drogas, diga-se de passagem, é histórico. Desde sempre o homem fez uso de ervas, combinações alimentícias ou químicas, com a finalidade de se entorpecer. Entretanto, hoje temos algumas drogas potencialmente destrutivas, que causam uma dependência orgânica severa, que podem destruir por completo a vida de uma pessoa. Visto que o perigo das drogas atuais parece maior, e que a dependência química já é considerada uma doença pela OMS, tendo inclusive CID (classificação internacional das doenças) próprio, vários estudos científicos tem dado subsídios para identificar alguns traços de personalidade comuns a usuários de drogas, com a finalidade de auxiliar tanto a usuários, familiares e profissionais da área, a realizar desde ações preventivas à dependência quanto de tratamento e apoio.  
         Vejam o exemplo da morte, ontem, de um grande compositor e músico brasileiro, o Chorão: embora ainda inconcluso, o relatório aponta que seu falecimento pode estar associado ao uso de álcool e cocaína feito por ele no dia. Antes de morrerem, os dependentes químicos em geral tem sua vida pessoal e profissional destruída também. A exemplo do cantor, que estava em depressão devido ao divórcio, levando uma vida desregrada e sem sentido, muitos usuários já apresentam distúrbios emocionais antes mesmo de usar drogas. Tais transtornos, não sendo devidamente tratados, levam algumas pessoas a escolher as drogas como um refúgio, ou meio compensatório de prazer, ou ainda como uma maneira de extravasar uma postura transgressora.
         E aí vem a pergunta: por que alguns usam drogas para lidar com suas questões, e outros não? Os estudos apontam que os usuários geralmente apresentam alguns “defeitos” de caráter em comum, tais como: comportamento impulsivo, manipulador, tendência a transgressão, dificuldade de aceitar limites, ansiedade, procrastinação, inabilidade de enfrentar problemas, egocentrismo, necessidade de gratificação imediata. Depois de ter trabalhado por três anos numa clínica para dependentes químicos, posso dizer que além de concordar com esses resultados, acrescentaria mais duas características nesse perfil: a negação de seus próprios defeitos, e a disposição para a projeção, que é apontar no outro o defeito que ele mesmo tem, sem se aperceber que o tem.
         Munidos desse conhecimento, as psicólogas que tratam esses casos já tem um protocolo de atendimento focado na compreensão e eliminação desses “defeitos”, que certamente quando trabalhados, auxiliam consideravelmente os usuários a deixar o uso; e, também, podem evitar que pessoas não-usuárias passem a sê-lo, ou que desenvolvam transtornos mentais. Lembrando que, além da psicoterapia, recurso indispensável para o sucesso do tratamento, este requer acompanhamento psiquiátrico e inserção do usuário em grupos de apoio.

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