sábado, 8 de dezembro de 2012

O natal mexe com as pessoas

Texto publicado dia 7/12/12 no Jornal Opinião

      
     Trabalhei cerca de três anos numa clínica psiquiátrica e noutra para dependentes químicos. No mês de dezembro, esses locais lotam seus leitos de internação. Para vocês entenderem melhor, em geral apenas pacientes graves chegam a ser internados. Os motivos são surtos psicóticos, crises de depressão profunda, tentativas de suicídio, episódios de mania (típico de bipolares) ou ainda de auto e hetero agressão (a pessoa corta ou fere a si ou a outros), etc. Em datas como o dia dos pais ou dia das mães, as clinicas também enchem. 
      Apenas por esse dado, já podemos imaginar o quanto a sociedade e suas datas festivas tem influencia em nosso lado emocional. As festividades coletivas, em geral, são demarcadas por “rituais de passagem”, que tornam aquele momento especial e único. Desde casamentos, formaturas, aniversários de 15 anos, até aos almoços do dia das mães, amigos secretos ou confraternizações de de fim de ano das empresas, ceia de natal e estourar o champagne no ano-novo – todos são momentos, de certa forma, que supõem a abertura de um novo ciclo (e o encerramento de um velho).  Finalizar etapas é quase sempre forte, e o início do novo também nos dá um frio na barriga.
     Porém, o fim do ano parece ser peculiar. A sociedade inteira se mobiliza: as ruas, praças, casas, instituições ficam enfeitadas; famílias, empresas, hospitais, igrejas, escolas, realizam confraternizações ou amigos secretos de fim de ano; recebemos o 13 salario, e economia ferve; as crianças querem se comportar para ganhar presente do papai Noel; todos parecem fazer reflexões, “o que fiz este ano?”, “o que desejo para o próximo”?; portanto, é uma época de ponderações, fantasia, encontros, fim e começo, presentes e abraços.
    Entretanto, não são todos que vêem flores no natal. Para não apenas algumas, mas várias pessoas, o natal pode ser uma festividade triste, chata ou hipócrita. Em geral, não é nada agradável “abraçar” alguém com quem se tem conflito, certo? Ou, se tivemos um ano difícil, nem sempre teremos muito o que comemorar nas festas de fim de não. Ou, ainda, se há lembranças de natais anteriores, como na infância, onde se padeceu de necessidades e conflitos, lembranças inconscientes podem afetar o desenvolvimento da alegria e celebração em nós.
     Por tudo isso, podemos dizer que o fim do ano mexe, e muito, com todos nós. Por mais excêntrica que uma pessoa seja, por mais que pareça não dar importância as festividades de fim de ano, ela se mobilizará. Tudo na vida tem o seu tempo, e nem sempre é no fim do ano que podemos resolver nossos conflitos pessoais, perdoar mágoas, fechar feridas, para dar lugar a esperança da renovação, e aos abraços sinceros no natal. Mas vale lembrar que a solução faz bem pra alma e, quanto mais demorarmos para fazê-lo, mais sofremos e adoecemos. Devemos curar o coração o quanto antes, não apenas para que possamos distribuir abraços no natal, mas em qualquer época do ano.

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