sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Vamos nos inspirar, férias!


Texto publicado no Jornal Opinião dia 14/12/12 

       
        Meados de dezembro, parece que Beltrão pára. Grande parte dos órgãos públicos entram em recesso, várias fábricas, lojas e clínicas vão entrando em férias coletivas, o fim do ano letivo das escolas públicas termina hoje,... Os pacientes, ansiosos, estão comentando quase que num coro: “estou cansado (a), não vejo a hora que cheguem as férias”. Muitos vão a praia, outros viajarão para visitar parentes, enfim, parece que boa parte dos beltronenses está nesse clima. Mesmo os que apenas terão o recesso de fim de ano.
        Férias é o tempo do diferente. É tempo de sair da rotina maçante do dia a dia, de acordar mais tarde, de descansar, ou  de se cansar fazendo aquela viagem que você sempre desejou, ou uma atividade que gosta. É tempo de se desvencilhar de responsabilidades, horários, compromissos.  É fazer nada, curtir o tempo sem culpa. Férias é tempo de abrir espaço para o novo:  ver, sentir, pensar coisas novas, estar em locais novos, com pessoas diferentes do usual. A liberdade e a despreocupação tornam as férias o tempo ideal para a inspiração.   
        Pois é, essa ansiedade para as férias não é exclusividade do beltronense ou do brasileiro. Elas são renovadoras e necessárias e em todo o mundo elas existem. Um exemplo interessante é a Inglaterra, onde professores universitários tem direito a férias de 1 ano a cada 7 anos, além das férias anuais. Professores precisam se inspirar, se reciclar, eles formam pessoas, e neste país eles sabem disso. Diversos escritores apóiam idéias desse tipo, a exemplo do italiano Domenio de Masi, um defensor do lazer e do apoio financeiro governamental para estudantes de nível superior e pesquisadores. Pois sabemos que, em geral, trabalho frenético + universidade = baixa produtividade + insatisfação. É preciso não apenas dedicação para esse ramo de atividade, como uma “cuca fresca”. 
       Portanto, excesso de trabalho pode roubar nossa capacidade de refletir e tempo mínimo também para o lazer.  Fim de ano, principalmente aqui em Beltrão, parece ser o tempo da ansiedade das férias de boa parte da população. Só vale lembrar que a capacidade de satisfação e de inspiração durante a rotina cotidiana também pode e deve existir, mesmo em circunstâncias desfavoráveis, e tudo vai depender da criatividade, bom humor, e competência para lidar com as intempéries. Domenico também fala nisso. Que venham as férias, o natal, e principalmente o ano novo, com uma rotina mais feliz e inspiradora para todos nós!     

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

“Há algum milagre para ser magra (o)?”


Texto publicado dia 30/11/12 no Jornal Opinião


      “Fechar a boca”, respondeu-lhe a amiga. “Ah, mas isso é impossível, eu adoro comer, principalmente doce...” – disse Joana, desanimada com dificuldade de emagrecer, ainda mais com a chegada do verão.

       O trecho acima poderia ser um começo de um conto, uma história qualquer, porém com um tema bem atual. Com a chegada do verão, as queixas em relação a estética e principalmente sobre as “gordurinhas extras” aumentam consideravelmente no consultório, em sua maioria advindas do público feminino. Percebemos como as mulheres se preocupam, ficam ansiosas, as vezes sem sono e até deprimidas, por não estarem satisfeitas com seu corpo. “Como poderei colocar um biquíni?”, dizem muitas... Será que existe uma receita milagrosa? Será que para ser magra é preciso fechar mesmo a boca e viver com fome? Será que preciso fazer uma cirurgia bariátrica se eu quiser ser magra?”

      Gostaria de compartilhar com os leitores algumas sugestões básicas que sempre dou as minhas pacientes desejosas por emagrecer. É preciso esclarecer, primeiro, que cada uma de nós tem um biótipo físico. Podemos dizer que há 3 biotipos, aquele da “magra e longínqua”, mais incomum, que em geral são aqueles das modelos, que não precisam se esforçar para emagrecer; há o biótipo da “baixinha e parruda”, o mais comum da mulher brasileira, típico de bailarinas e dançarinas, que são daquelas mulheres com facilidade em ganhar músculos, mas que também podem ganhar uns quilos a mais após certa idade se não se cuidarem; e há um biótipo médio, que são das mulheres de altura média e que também teriam um peso médio.  É preciso descobrir qual o seu biótipo e aprender a respeitá-lo. Todos eles têm alguma vantagem e desvantagem. E todos têm a sua beleza.
      Existe milagre para ficar magra? Não. Desde “dietas de emergência” a uma intervenção mais drástica, como a cirurgia bariátrica (recomendada em casos mais extremos), só irão funcionar, se a pessoa fizer uma reeducação alimentar associada a exercícios físicos regulares. Isso não é novidade para você, certo? Pois é, essa é a velha e única fórmula para permanecer magra (e saudável). Até quem faz a cirurgia bariátrica volta a engordar, se não mudar esses hábitos. O problema é que as mulheres insistem em acreditar em remédios milagrosos e pílulas da internet, que - na verdade - são apenas um escape psíquico para o enfrentamento da dor de se sentirem menos aceitas devido a imagem que acham que tem (e que muitas vezes, nem tem). Sem contar que a comida também é escape para carências e frustrações, por isso a dificuldade que existe para se emagrecer, e a seriedade sobre este assunto.
      Entretanto, além da reeducação alimentar, é interessante que as pessoas possam por em prática mudanças na maneira de comer. Aqui no Sul, muitas vezes vejo que as pessoas comem rápido, e falam bastante durante as refeições. É preciso comer devagar; mastigar lentamente e bastante, saborear a comida (na segunda garfada, a pessoa já começa a se sentir saciada); colocar porções menores no prato, pois temos a tendência de querer comer tudo o que está nele;  e evitar falar, porque as vezes, conversando, a pessoa não se concentra na refeição e come mais do que deveria.
       Assim, podemos concluir que somente uma mudança nos hábitos de vida, ou seja, somente através de uma reeducação alimentar, agregada a exercícios físicos e uma mudança na maneira de comer, poderão não somente deixar as pessoas mais magras, como mais saudáveis. Se essas dicas não funcionarem, ou a sua dificuldade for muito grande em praticá-las, é recomendável buscar ajuda médica e psicológica.

sábado, 8 de dezembro de 2012

O natal mexe com as pessoas

Texto publicado dia 7/12/12 no Jornal Opinião

      
     Trabalhei cerca de três anos numa clínica psiquiátrica e noutra para dependentes químicos. No mês de dezembro, esses locais lotam seus leitos de internação. Para vocês entenderem melhor, em geral apenas pacientes graves chegam a ser internados. Os motivos são surtos psicóticos, crises de depressão profunda, tentativas de suicídio, episódios de mania (típico de bipolares) ou ainda de auto e hetero agressão (a pessoa corta ou fere a si ou a outros), etc. Em datas como o dia dos pais ou dia das mães, as clinicas também enchem. 
      Apenas por esse dado, já podemos imaginar o quanto a sociedade e suas datas festivas tem influencia em nosso lado emocional. As festividades coletivas, em geral, são demarcadas por “rituais de passagem”, que tornam aquele momento especial e único. Desde casamentos, formaturas, aniversários de 15 anos, até aos almoços do dia das mães, amigos secretos ou confraternizações de de fim de ano das empresas, ceia de natal e estourar o champagne no ano-novo – todos são momentos, de certa forma, que supõem a abertura de um novo ciclo (e o encerramento de um velho).  Finalizar etapas é quase sempre forte, e o início do novo também nos dá um frio na barriga.
     Porém, o fim do ano parece ser peculiar. A sociedade inteira se mobiliza: as ruas, praças, casas, instituições ficam enfeitadas; famílias, empresas, hospitais, igrejas, escolas, realizam confraternizações ou amigos secretos de fim de ano; recebemos o 13 salario, e economia ferve; as crianças querem se comportar para ganhar presente do papai Noel; todos parecem fazer reflexões, “o que fiz este ano?”, “o que desejo para o próximo”?; portanto, é uma época de ponderações, fantasia, encontros, fim e começo, presentes e abraços.
    Entretanto, não são todos que vêem flores no natal. Para não apenas algumas, mas várias pessoas, o natal pode ser uma festividade triste, chata ou hipócrita. Em geral, não é nada agradável “abraçar” alguém com quem se tem conflito, certo? Ou, se tivemos um ano difícil, nem sempre teremos muito o que comemorar nas festas de fim de não. Ou, ainda, se há lembranças de natais anteriores, como na infância, onde se padeceu de necessidades e conflitos, lembranças inconscientes podem afetar o desenvolvimento da alegria e celebração em nós.
     Por tudo isso, podemos dizer que o fim do ano mexe, e muito, com todos nós. Por mais excêntrica que uma pessoa seja, por mais que pareça não dar importância as festividades de fim de ano, ela se mobilizará. Tudo na vida tem o seu tempo, e nem sempre é no fim do ano que podemos resolver nossos conflitos pessoais, perdoar mágoas, fechar feridas, para dar lugar a esperança da renovação, e aos abraços sinceros no natal. Mas vale lembrar que a solução faz bem pra alma e, quanto mais demorarmos para fazê-lo, mais sofremos e adoecemos. Devemos curar o coração o quanto antes, não apenas para que possamos distribuir abraços no natal, mas em qualquer época do ano.